Neste dia 2 de abril de 2018, decido abraçar um projeto que já tinha em mente há algum tempo - um blogue pessoal. Faço-o, porque me senti na necessidade de criar um espaço meu, onde possa expressar os meus pontos de vista sobre os demais assuntos, expor aquilo que considero interessante, desde textos a músicas, desde sítios a pessoas, sem pressões e sem comprometimentos. Em suma, pretendo que este lugar seja um reflexo da minha pessoa. Dou, deste modo, a qualquer um a oportunidade de me conhecer, se for essa a sua vontade.
Um dos obstáculos com que me deparei logo à partida para a criação deste blogue foi a sua designação. Depois de algum tempo de reflexão, creio, apesar das dores de cabeça, ter chegado a um nome interessante, suficientemente abrangente e condizente com a minha perspetiva de vida. "O Espetáculo do Mundo" passa, assim, a ser o meu lugar neste infindável mundo que é a Internet.
Como é habitual nas melhores ideias, estas surgem, aparentemente, do nada e, de facto, foi em mais um dos meus pensamentos aleatórios que me veio à cabeça parte do título do poema (que deixo no final) "Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo", da autoria de Ricardo Reis, o heterónimo de Fernando Pessoa que representa a sua faceta clássica e estoico-epicurista, isto numa altura em que me venho surpreendendo positivamente com O Ano da Morte de Ricardo Reis, a primeira obra (e talvez não seja a última por este andar, pese embora o geral desamor que nutro pela leitura) que leio do nosso Prémio Nobel da Literatura, José Saramago.
A este nível, devo confessar que não me tenho como nenhum sábio. Porém, considero, tal como o referido heterónimo pessoano, que o mundo representa, efetivamente, um verdadeiro espetáculo com o qual me deparo todos os dias e, como espetáculo que é, não me agrada em todos os atos e momentos (ou até personagens) apresentados.
Apesar da sintonia identificada, creio marcar uma clara diferença para com Ricardo Reis, na medida em que, ao contrário dele, não me consigo contentar com o espetáculo do mundo (e talvez tenha a ver com isso o facto de eu não ser sábio - não só, mas também), não me conformo, e, consequentemente, faço questão de deixar claros os meus pareceres (se possível, fazendo-os valer nas minhas ações) em relação ao que nele se passa. Esta assume-se, por conseguinte, como a finalidade última do meu blogue.
Desta forma, não prometo que as minhas opiniões sejam sempre consensuais, mas garanto que a sua emissão, sincera, far-se-á sempre no sentido de melhorar o "espetáculo", enriquecendo o diálogo; nunca numa perspetiva destrutiva. Idealmente, poderemos aspirar, com esta postura, à construção de uma sociedade melhor.
O autor,
Gonçalo Ferreira da Silva.
NOTA: Deixo, então, o poema em cujo título me inspirei para dar nome ao blogue que agora nasce.
"Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos. ou heras. ou rosas volúveis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta a flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto ás horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo."
Ricardo Reis, 19 de junho de 1914.
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