sexta-feira, 8 de março de 2019

O panorama global e a economia europeia | Uma análise às medidas do BCE

Numa semana em que as perspetivas em relação à performance da economia mundial se deterioraram a olhos vistos, com os principais bancos mundiais a reduzirem as estimativas de crescimento das grandes economias, o Banco Central Europeu (BCE) foi chamado à ação e forçado a dar ainda mais força à sua política monetária ultra-expansionista, num derradeiro esforço para evitar uma recessão. 

Recorde-se que tudo isto surge num momento particularmente delicado a nível global, com o Brexit e com a guerra comercial entre China e Estados Unidos da América (EUA) a trazerem grande instabilidade aos mercados financeiros - Wall Street, por exemplo, caiu pelo quarto dia consecutivo ontem, pela primeira vez no ano. De mais a mais, o crescimento do mercado de empréstimos alavancados, favorecido pela simpatia crescente pelas obrigações de empréstimos colateralizados (CLO), tem contribuído para uma deterioração dos níveis de confiança dos mercados, trazendo à memória o que se passou em 2008. De facto, as semelhanças com o que esteve na origem, nesse mesmo ano, daquela que é tida por muitos como a maior crise financeira da história são enormes, com a diferença de que, desta feita, são as dívidas monstruosas de empresas com baixa notação financeira que continuam a ser teimosamente financiadas e não tanto o crédito ao setor imobiliário, aspeto este que se encontra associado à transição das obrigações de dívida colateralizada (CDO) para as já referidas CLO, que, portanto, apenas diferem na fonte de dívida.

Não obstante os sinais de uma crise financeira iminente serem alarmantes, a principal preocupação dos bancos centrais neste momento é a de continuarem a potenciar o crescimento das economias sob a sua alçada, ficando a análise profunda às CLO e aos riscos por elas comportados a cargo do Conselho de Estabilidade Financeira.

Passando às medidas tomadas pelo BCE propriamente ditas, de salientar a intenção de se manterem as taxas de juro nos mínimos atuais pelo menos até ao final do ano. À luz dos modelos macroeconómicos, nomeadamente, do mercado do dinheiro e da oferta agregada e da procura agregada, a intenção de tal medida é clara. Neste sentido, taxas de juro mais baixas significam mais moeda em circulação, o que se traduz num maior financiamento dado aos bancos comerciais (que se está a concretizar a uma taxa de juro de 0%) e, por conseguinte, maior crédito ao consumo e ao investimento, os dois maiores motores da generalidade das economias, ainda que o primeiro assuma uma preponderância acima do desejável. De outra perspetiva, uma maior quantidade de moeda em circulação implica uma desvalorização do euro (que, por sinal, continua a perder face ao dólar), o que se espera vir a contribuir para um aumento das exportações da Zona Euro.

Mario Draghi, presidente do BCE, anunciou novas medidas para evitar recessão

Seja como for, se China e EUA não conseguirem um acordo em breve e o Brexit continuar perigosamente em águas de bacalhau, não há taxas de juro baixas que valham às economias americana e, sobretudo, europeia. Num cenário de tamanha instabilidade, dificilmente se conseguirá atrair investimento, tão necessário para um crescimento económico sustentável e duradouro. As próximas semanas poderão ser decisivas, numa fase em que a evolução do comportamento do mercado de empréstimos alavancados tem uma palavra a dizer.

Nota: Para a elaboração deste artigo, recolhi informação tanto do trabalho de Carla Pedro, como do trabalho de Rita Faria, ambos disponíveis no portal online do Jornal de Negócios.

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