sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Problemas de crescimento do Japão | Uma análise à luz do Modelo AD-AS

O presente artigo representa a tradução para português do original Japan's growth problems | An analysis in light of the AD-AS Model, publicado a 17 de janeiro de 2019.

Na edição de ontem do Financial Times, Robin Harding, Professor do Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford e o Gillian Peele Fellow em Política na Lady Margaret Hall (Harding, 2018), focou-se (infelizmente, não me encontro em condições de partilhar o link, já que o artigo apenas se encontra disponível para assinantes) num facto alarmante: a mão de obra japonesa deverá diminuir em quase 13 milhões de pessoas (de 65,3 milhões em 2017 para 52,5 milhões em 2040) nos próximos 20 anos, de acordo com o ministro da saúde japonês. Estas previsões têm por base os baixos níveis de fertilidade no país, que já são crónicos, assim como o severo envelhecimento populacional.

À luz do Modelo AD-AS (assim que possível, publicarei um artigo em que explico as suas principais nuances), inspirado pelas ideias e pelo trabalho de John Maynard Keynes durante a primeira metade do último século, é possível analisar a atual situação do Japão. Para tal, efetuei a recolha de alguns dados no portal oficial do Banco do Japão acerca do output gap (diferença entre PIB real e PIB potencial) e da taxa de crescimento potencial do país, que são apresentados em seguida.

Fonte: Banco do Japão

De acordo com o gráfico, é possível afirmar que o Japão se encontra numa situação acima de pleno-emprego (mais precisamente, desde o final de 2016), uma conclusão viabilizada pelo output gap positivo. Tal significa que a taxa de desemprego efetiva do país tem estado abaixo da taxa natural (aquela que inclui o desemprego estrutural e friccional, mas não o cíclico) nos últimos anos. Deste modo, o Japão encontra-se num inflationary gap (estado em que o PIB real supera o potencial), existindo, por conseguinte, à luz do Modelo AD-AS, uma pressão para os salários aumentarem, contribuindo para um crescimento dos custos de produção e, naturalmente, do nível de preços, na procura de se restabelecer o nível potencial do PIB, fechando o gap gerado. Na verdade, os valores de inflação positivos atuais, que se verificam após mais de uma década de deflação, podem ser entendidos pelo raciocínio previamente estabelecido. No gráfico seguinte, represento o que está a acontecer no Japão, usando o modelo proposto.


Apesar de ser inquestionavelmente interessante continuar a discutir a atual situação do Japão, o artigo escrito por Robin Harding foca-se principalmente nos problemas de crescimento do país, que se encontram estreitamente relacionados com o comportamento do nível potencial do PIB ao longo do tempo, o qual é apresentado no gráfico seguinte.

Fonte: Banco do Japão

No que diz respeito ao nível potencial do PIB, espera-se que o mesmo diminua nos próximos 20 anos, traduzindo a diminuição da mão de obra despoletada pelo envelhecimento e pela baixa natalidade. De facto, o nível de pleno-emprego diminuirá a olhos vistos e tal repercutir-se-á negativamente no PIB a longo prazo. De modo a tentar compensar, de alguma forma, esta inevitabilidade, «a participação das mulheres e da população em idade mais avançada é essencial», de acordo com a comissão do ministério da saúde japonês para os estudos relativos à mão de obra. Para além de tal, «uma elevada expansão dos níveis de produtividade» ou «imigração em larga-escala» são também fatores apontados como potenciais mitigadores dos efeitos nocivos da situação demográfica do país no mercado de trabalho. À luz do Modelo AD-AS, a implementação de políticas neste sentido seria muito bem-vinda, uma vez que permitiria uma queda menor do nível potencial do PIB do que a esperada, sustentando, assim, ainda que não totalmente, o nível de produção. Graficamente, temos o seguinte.



Conclusões finais: O Japão enfrenta uma situação dramática do ponto de vista demográfico que afetará a sua economia mais cedo o mais tarde. Consequentemente, o governo do país tem o dever de agir rapidamente, estimulando a imigração através de programas atrativos, implementando incentivos para a natalidade e para o trabalho feminino, assim como apoiando o campo da Investigação & Desenvolvimento, na procura de níveis crescentes de produtividade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Japan's growth problems | An analysis in light of the AD-AS Model

In yesterday's edition of Financial Times, Robin Harding, an Associate Professor in the Department of Politics and International Relations at the University of Oxford and the Gillian Peele Fellow in Politics at Lady Margaret Hall (Harding, 2018), focused (unfortunatelly, I won't be able to display the link, as the article is only available for subscribers) on a threatening fact: Japan is expected to see its labor force shrink by almost 13 million people (from 65.3 million in 2017 to 52.5 million in 2040) in the next 20 years, according to the country's health minister. These forecasts are based on the long lasting, low levels of fertility in the country, in articulation with a severe population aging.

In light of the AD-AS Model (as soon as possible, I will write an article explaining the main economic mechanisms at play with it), inspired by the thoughts and work of John Maynard Keynes during the first half of the last century, it is possible to analyze the Japanese current situation. To do so, I made some research on the data presented by Bank of Japan regarding the Japanese output gap and potential growth rate (the following).

Source: Bank of Japan

According to the chart, it is possible to state that Japan has been experiencing an above full-employment situation lately (more precisely, from about the end of 2016 onwards), a conclusion given by the positive output gap. This means that the unemployment rate in the country has been below its natural rate (that comprising frictional and structural unemployment, excluding the cyclical one) in recent years. That is, Japan is currently facing an inflationary gap, thereby existing, in light of the AD-AS Model, an upward pressure on wages, increasing production costs and, hence, the level of prices, so that it is possible to restore the level of potential output in the long-run, closing the gap generated. Actually, positive inflation levels nowadays after more than a decade of deflation can be understood by this reasoning. In the following chart, I plot what is happening in Japan right now, using the model proposed.


Even though it is undeniably interesting to further discuss Japan's current situation, the article written by Robin Harding mainly focuses on Japan's growth problems and they are unmistakably related to potential GDP behavior throughout time, which is presented in the following chart.

Source: Bank of Japan

With respect to the level of potential output, it is expected to decrease in the next 20 years, as a result of a shrinking labor force, due to aging and lack of natality. Indeed, the level of full-employment will decrease severely and that has negative effects on output in the long-run. To offset this inevitability, «the participation of women and older people in the workforce is essential», according to the health's ministry's comission on worforce research. Moreover, a «huge expansion in productivity» or «large-scale immigration» are pointed out as capable policies to mitigate the demographic situation impacts in the labor market. In light of the AD-AS Model, the implementation of this kind of policies would be welcome, as it would allow the level of full-employment to decrease less than it is expected, thus sustaining the level of output. Providing a graphical depiction, we have the following.



Final conclusions: Japan faces a dramatic situation regarding demography which will harm its economy sooner or later. Therefore, the Government has the duty to act quickly, stimulating immigration through attractive programs, designing incentives for natality and for women to work, as well as supporting Research & Development, in the pursuit of increasing levels of productivity.

Novidades | Macroeconomia e artigos em Inglês n' "O Espetáculo do Mundo"

A partir de hoje, assuntos macroeconómicos serão uma das principais matérias de reflexão no meu blogue. Partindo dos conhecimentos que adquiri ao longo do meu primeiro semestre na NOVA School of Business and Economics, analisarei diversas situações da economia mundial à luz dos modelos estudados em Introdução à Macroeconomia (sendo mais rigoroso, em Principles of Macroeconomics, na medida em que as aulas foram lecionadas em inglês).

Nesta cadeira, fui guiado por dois Professores Regentes e por um Teaching Assistant. Em relação a este campo em particular, pude contar, por um lado, numa primeira fase, com a sabedoria do Professor José Miguel Cardoso da Costa, que conjuga a atividade de docente com a de economista no Banco de Portugal. Por outro lado, beneficiei dos muitos anos de sabedoria do Professor José António Ferreira Machado, ex-Diretor da minha faculdade e atual Vice-Reitor da Universidade Nova de Lisboa. Por último, mas não menos importante, fui orientado nas aulas práticas por Manuel Vassalo, atualmente a frequentar o Mestrado em Finanças - o 19.º melhor mestrado da área, a nível mundial, de acordo com o Financial Times - na mesma instituição em que leciona. A todos os eles, transmito um profundo sentimento de gratidão por todos os conhecimentos transmitidos e pelo apoio dado ao longo do meu primeiro semestre numa faculdade à qual sinto um enorme orgulho em pertencer.

Associado a este novo tópico pelo qual me aventuro, anuncio também a novidade de começar a escrever em inglês, com o intuito de conferir um potencial de alcance universal aos meus artigos e de eu próprio progredir na escrita num idioma diferente do meu.

Para terminar, espero que as novas dinâmicas introduzidas no meu blogue se constituam como uma oportunidade de aprendizagem para todos - para vós, que estão desse lado e se interessam pelo que escrevo, e para mim, que procuro crescer num mundo que me fascina, o da economia.

O Efeito Dunning-Kruger

«O ignorante afirma, o sábio duvida», já dizia Aristóteles, séculos antes de a psicologia nomear um efeito para explicar o porquê de tantos...